Hoje quando chegou dizia ter vindo de lugar onde tinha chovido um dilúvio, desesperando-se a dizer não ter provas de de lá ter vindo ou de lá ter estado, nem de ter estado para perder o tempo a mentir, passando por um ribeiro só para mergulhar e chegar encharcado como meio de prova.
Os olhos colados nas sobrancelhas estavam a olhar a para o cabelo, a dizer que o cabelo estava seco e não sabia como. As mãos estavam a dizer a mesma coisa apalpando o corpo todo, cobrindo de forma seguida mas alternada a lã da camisola, os quadrados da flanela da camisa, a bombazine das calças, calva pelos joelhos e pelas nádegas. Os pés batiam as botas no chão, estando as botas também secas, não entendendo Manuel o porquê. Junto depois os pés. E jurou. Jurou estar a chegar de um lugar onde tinha chovido o dia inteiro.
Manuel ficava pela superfície dos assuntos em frente às pessoas e guardava os pormenores das histórias na gaveta de cima da mesinha da cama. Não conseguia adormecer sem antes falar baixinho escondido pelos lençóis e lá contava os segredos todos ao gravador. Nessa noite a cabeça tinha vindo de uma música que lhe pôs a cara em lágrimas. E ele, só para não ficar triste, fingiu ter estado à chuva o dia todo.
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