Abandona a praça de touros. Vira à direita, vira à direita, vai sempre em frente, passa a rotunda, segue em frente. Entra na estrada e encontra a marcha lenta. Oito carros à frente chegam criar um fila de quilómetros em poucos minutos. A ligação entre o Viana do Castelo e o Porto passa a ser num instante o gargalo entalado de uma garrafa. Não vai mais vinho para aquela mesa. A do canto. Isso, essa, a dos três senhores serventes na obra do Joaquim. É que eles são de fora e ainda devem muitos quilómetros à estrada.
Os três estão agora como nós todos, aos milhares, empatados a zero quilómetros por hora no asfalto da A28. A A28 mudou de nome, antes era IC1, e está à beira de oficializar a mudança de sexo, mas para tal é preciso dinheiro e para ter dinheiro e para ter dinheiro mandaram construir portagens na entrada e na saída da senhora.
Nós entretanto fomos transformados em caracóis e seguimos viagem devagarinho no dorso de asfalto do travesti inventado pelo governo. Mas vamos voltar aos três especialistas na arte de servente, deslocalizados em Viana do Castelo. Eles estão na carrinha aqui ao lado. O mais velho tem o cabelo a ficar branco, a cabeça a ficar impaciente com a demora e o juízo a ficar louco. Vem com o pescoço esticado para fora da janela a dizer que o protesto é uma vergonha e o que é preciso é um Salazar.
Falta muito para chegar ao Porto. O episódio repete-se. A democracia liberta a opinião, os lesados queixam-se do males que os conduzem ao papel de injustiçados e vem logo a seguir um fiel (tipo cão de fila) seguidor da ditadura. A este ocasional filho de Salazar, para não ter de lhe chamar filho de outra, convém lembrar que nos dias do coveiro da nação, ir de Viana do Castelo ao Porto era coisa para demorar umas cinco horas, ou até mais. A marcha lenta, se tivesse ido sempre a 40 quilómetros por hora, que não foi, só teria demorado duas horas. Afinal o tamanho "incómodo" da democracia é bem mais passageiro do que a perfeição ordeira do tempo do outro senhor. E o bastardo do ditador, lá chegou mais cedo a casa, no regresso do trabalho, mesmo tendo que aturar a insuportável velocidade do barulho da liberdade.
Os três estão agora como nós todos, aos milhares, empatados a zero quilómetros por hora no asfalto da A28. A A28 mudou de nome, antes era IC1, e está à beira de oficializar a mudança de sexo, mas para tal é preciso dinheiro e para ter dinheiro e para ter dinheiro mandaram construir portagens na entrada e na saída da senhora.
Nós entretanto fomos transformados em caracóis e seguimos viagem devagarinho no dorso de asfalto do travesti inventado pelo governo. Mas vamos voltar aos três especialistas na arte de servente, deslocalizados em Viana do Castelo. Eles estão na carrinha aqui ao lado. O mais velho tem o cabelo a ficar branco, a cabeça a ficar impaciente com a demora e o juízo a ficar louco. Vem com o pescoço esticado para fora da janela a dizer que o protesto é uma vergonha e o que é preciso é um Salazar.
Falta muito para chegar ao Porto. O episódio repete-se. A democracia liberta a opinião, os lesados queixam-se do males que os conduzem ao papel de injustiçados e vem logo a seguir um fiel (tipo cão de fila) seguidor da ditadura. A este ocasional filho de Salazar, para não ter de lhe chamar filho de outra, convém lembrar que nos dias do coveiro da nação, ir de Viana do Castelo ao Porto era coisa para demorar umas cinco horas, ou até mais. A marcha lenta, se tivesse ido sempre a 40 quilómetros por hora, que não foi, só teria demorado duas horas. Afinal o tamanho "incómodo" da democracia é bem mais passageiro do que a perfeição ordeira do tempo do outro senhor. E o bastardo do ditador, lá chegou mais cedo a casa, no regresso do trabalho, mesmo tendo que aturar a insuportável velocidade do barulho da liberdade.
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