Lisboa está a lavar a cara para sair à rua. As torneiras da cidade viraram todas o letreiro a dizer fechado para a parte de dentro. Os corpos tiram a roupa, as pessoas conseguem ser nús solitários ou quando muito aos pares. Só os balneários assumem a reponsabilidade de receber gente nua aos magotes, devidamente dividida pelo mesmo sexo e aí os corpos são desportistas em desespero de causa, cansados, acabados de suar à força e em esforço. Água vem, água vai. Nesta certeza redonda da repetição de movimentos, chega a hora do regresso da cobertura às partes. A cidade vai sair à rua com chinelos, sandálias, sapatilhas e sapatos. Vai de calças quase toda e de casaco. A noite vai trazer uma tendência quase nula de mulheres com pernas à mostra. A Lisboa que está a jantar no bairro Alto não é só Lisboa, é Portugal de norte a sul e é o país na longitude. Tantas línguas se misturam à porta dos rsstaurantes. Lisboa está com ar de ter no regaço o mundo inteiro. À minha mesa, ao meu lado, está uma menina de doze anos que nasceu na Irlanda. Aprendeu a falar português sozinha quando tinha quatro. A primeira palavra que disse foi mostarda. Teve bom gosto.
Os perigos da insónia
Há 8 horas
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