25.5.10

O chão que ela pisa

Sabe bem o frio do soalho de madeira por baixos dos pés. Estes dois encaminharam o corpo daqui para o lugar onde está uma fruteira em arames de inox. O corpo regressou com uma maçã nas mãos e com os pés felizes. O esquerdo e o direito, só costumam sorrir assim quando estão a tentar desenhar a última obra prima, no interior de um par de chuteiras. Não é normal o facto de andarem como se andassem nas nuvens no estado de nudez em que se encontram, mas para isso há uma explicação e a explicação é a de o soalho estar a bombear ar puro ao corpo inteiro. Chegando ao ponto de arejar a própria cabeça de um português desiludido com o futebol de uma selecção que teima em meter os pés pelas mãos.
Vamos então ao chão que ela pisa, sendo que o chão que ela pisa, aqui, não poderá ser nunca o livro de Salman Rushdie musicado pelos U2 sobre a história de uma banda com um casal no meio. O chão que ela pisa é neste particular o caminho feito e a fazer pela selecção portuguesa de futebol. Sem recurso ao GPS, chego-me à frente para afirmar com estas letras todas que por este andar, mantendo esta rota, e nesta velocidade de quem vai em passeio, a África do Sul que vai surgir no horizonte é o fim de um continente numa falésia sobre o mar revolto e numa zona sem praia. Adivinha-se queda livre e inevitável naufrágio. E isso seria uma tormenta.
A selecção portuguesa que jogou e empatou a zero com Cabo Verde, essa de Queiroz, cabe na metáfora de uma mulher de século XVIII dentro do espartilho. O meio campo, está preso ao chão por cordas que podiam ser as cordas que esmagam a cintura. Com isso, lá em cima, no ataque, respira-se com dificuldade normal de quem tem falta de ar, de bola. Em baixo, na defesa, não chegou a dar para ver se junto à relva, a defesa portuguesa dá os sinais vitais que os meus pés dão sobre o frio confortável deste soalho. (professor, estamos na era do topless. Ponha lá os rapazes à solta.)

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