11.10.10

Botanomância

A uma distância de um palmo dos olhos, o livro virou a página número 493 para o leitor, estando este deitado de costas para o sol numa toalha onde, para  além do tronco e das pernas, fazia apoiar os cotovelos em jeito de âncora do corpo e escora dos braços. 
O livro também estava deitado, mas de barriga aberta para cima. As entranhas da história deixavam passar a parte dos crimes escrita por Roberto Bolaño em 2666. A linha em questão foi vista por um par de olhos que se abriram e fecharam, a fim de verem de novo e de tentarem ver melhor aquela que devia ser a vigésima palavra nova encontrada pelo leitor, já arrependido de não ter apontado as anteriores dezanove, que teve o cuidado de ir procurar à internet no iphone. Esta ele não teve de fazer busca porque o escritor fez o favor de dizer o que queria dizer na linha a seguir. Temos com isto que na linha anterior havia a palavra botanomancia, mas que na que se lhe seguia era explicado o sentido de botanomancia, no livro utilizada para falar das pessoas adivinhas e que se põem a adivinhar através da observação dos vegetais.
Quem de fora estivesse a olhar para o estado vegetativo do leitor ao sol, desconhecendo em absoluto o conceito de botanomancia, estaria tentado a dizer que o livro do tamanho de uma estante, em vez de lido, estava a ser devorado.

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